Dia
desses estava ouvindo um relato de Mário Sérgio Cortella, um grande filósofo que
admiro, onde ele prometeu aos filhos que um dia contaria à eles o grande
segredo da vida. Mas para isso seria necessário crescer um pouco mais, para
haver o entendimento completo.
Eis
que finalmente, quando um deles chegou aos 12 anos, foi correndo perguntar ao
pai qual era o tal segredo? E ele resolveu abrir o jogo:
-
“A grande verdade da vida é que vaca não dá leite, você tem que tirar!”
Algo
que parece muito simples, perto da resposta complexa que tanto foi aguardada,
para o espanto do garoto. Mas a realidade é que dá muito trabalho, até chegar
ao processo final que é o “leite na xicara”. Para isso, explica Cortella, é necessário que
uma pessoa se levante às 03:30 hs da manhã, entre no curral todo sujo, amarre a
vaca, segure a teta dela e aí possa tirar o leite.
Porém,
estamos vivendo uma fase de grande conflito psicológico e consequentemente
social. Onde seu ponto inicial, é devido a uma geração de jovens que possuem
necessidades cada vez maiores, principalmente de serem atendidos a tudo que
desejam: estar na moda com um estilo que chame a atenção, celulares de última
geração, muitos seguidores nas redes sociais e com muitas curtidas (Comprovando
sua importância), são alguns dos exemplos que mais ouvimos.
Claramente
percebemos uma grande inversão de valores, através de condutas superficiais, iniciando
pelas roupas cada vez menores (Rebolando ao som de Anita), versus o aumento da
acomodação, baixa tolerância a frustração, a fuga através do mundo digital,
drogas e suicídio. Representados, em sua maioria, pela população jovem e cada
vez mais propensa a crises de ansiedade, depressão, compulsões, além de
comportamentos agressivos, principalmente consigo mesmo.
Há
um padrão comportamental e emocional muito destacadas nessa população mais
jovem, que envolvem as crises de baixa autoestima, com um grande agravante que é
a comparação excessiva com “o outro”, principalmente com base nas redes sociais.
Tornando-se mais intenso, somados aos comportamentos de automutilação, onde se
“cortar” tem a justificativa de aliviar a dor e a angústia...
Percebo
que esse vazio existencial vem se comunicando com todos nós de uma maneira, que
a cada geração, vem mostrando novas faces e necessidades. Porém, o mais
preocupante é que ainda não inventaram uma forma automática ou mesmo um botão
que se pressione para lidar diretamente com nossos sentimentos e angústias, para
realmente “tirar” toda dor que sentimos ou mesmo, acabar com o tédio que nos
assola tantas vezes!
É nesse momento, que muitos trocam os cliques
que resolvem uma realidade virtual, por objetos cortantes e que causam a ilusão
de, pelo menos aliviar os nossos problemas. E justamente, por não conseguirem
aceitar que nosso mundo real tem enfrentamentos, decepções, os sofrimentos que podem
nos levarem igualmente, ao crescimento e mais plenitude!
O
fato é que a dor existe para ser sentida e quanto mais fugimos, mais “alimento”
ela recebe e com isso vai ficando grande e forte. Agora, se houver a aceitação,
acolhimento e posicionamento dessa dor: ela irá diminuir e de repente, até se
dissipar, o quanto antes imaginamos!
A
maior questão são as pessoas “grandes” com comportamentos de criança no
processo de educação de seus instintos, onde: “Se eu não for feliz e do meu
jeito, não quero mais” e muitas vezes, é desistido inclusive de viver...
E nesse cenário os prejuízos são crescentes,
onde parte da sociedade está cada vez mais doente psiquicamente, pois segue
referenciais com vivências extremamente supérfluas de uma vida com “pouco
recheio”. Também na ilusão de uma suposta “Felicidade plena” ou repleta de “Riquezas
materiais”, até mesmo quem sabe “Um amor de conto de fadas”. E além todas as ilusões
corrosivas, ainda existe o pensamento de que tudo aquilo que “dá trabalho”,
dificultando demais o processo, é desistido e se aguarda os pais ou as pessoas
ao redor fazer por elas. Enquanto isso, entregar-se para a depressão e todo o
processo autoagressivo, se torna justificativa para sua vida não tão feliz.
A
maior verdade que já acessei nessa existência é a questão do propósito, que
tudo tem uma razão de ser e estamos aqui nesse mundo para evoluir, crescer e
que fugir nunca aliviará nada. Dessa forma, vejo que o resultado é do tamanho
do esforço e portanto, se esquivar da luta só causará prejuízos muito mais
danosos...
Aceitar
que a vaca não dá leite é extremamente necessário para nossa saúde psíquica,
mas garanto que todo o seu processo, vale muito à pena...
Existe muita luz realmente depois da tempestade, mas somente aqueles que se arriscarem a enfrentar sua própria sombra e a realidade dessa existência é que poderá beber esse leite da compensação!
Vale
à pena ficar e se esforçar...
E aqueles que estão em sofrimento psíquico, buscar auxílio terapêutico para esse processo é a melhor maneira para não desistir!